terça-feira, 14 de janeiro de 2014

A NOITE DO FOO-FIGHTER

Férias de meio de ano - A reação da meninada - O que dizia o Folclore e a Ufologia? - Sim, os discos voadores existiam!... - Seria a Usina um host post ufológico? - O nome de um rio acusa uma milenar casuística ufológica - “If You Could Remember”...

"Este avistamento marcou profundamente minha
vida de ufólogo, pois todas as dúvidas que possuía
sobre UFOs deixaram de existir. Ali estava a prova
real de que eles estavam entre nós. Há um
consenso na origem das sondas: são objetos
enviados por inteligências extraterrestres."
(Antonio Faleiro, ufólogo mineiro, sobre o seu 5º OVNI)

“A percepção do desconhecido é a mais fascinante das
experiências. O homem que não tem os olhos abertos
para o misterioso passará pela vida sem ver nada.”
(Albert Einstein)

"A grama a lama tudo
É minha irmã
A rama o sapo o salto
De uma rã."

(A rã. João Donato, 1974)


De primeiro, a gente costumava...” Lembra-te desta velha expressão, amigo? É provável que se lembre! Parece que está extinta, “né”? Mas ainda há gente da antiga que lança mão dela toda vez que quer relembrar algo que aconteceu “no tempo do zagaia”... Então, deixe-me relembrar uma incrível história que se deu décadas atrás numa das muitas noites incríveis que vivemos na Usina. E se você gosta de história de mistérios, eis aqui mais uma história de teor fantástico para saciar sua curiosidade.

Era uma noite quente – talvez veranico de final de safrinha – mais precisamente na primeira semana de julho de 1976, quando íamos à todo vapor em pleno período da seca no Estado de São Paulo.

O "tanque do meio", local onde se passa esta história. Foto:1982
Éramos cinco meninos, todos entregues à uma excitante brincadeira em meio à escuridão da várzea do “tanque do meio” da Usina, uma diversão inédita para nós, e que, infelizmente, foi “a primeira e a última vez" que à ela nos entregamos, já que nunca mais tivemos oportunidade de brincá-la novamente. Na verdade, não era plena escuridão, porque as luzes da estrada pouco adiante iluminavam um pouco o local onde estávamos, além da Lua quarto-crescente que também contribuía jogando sobre a várzea um pouco de sua pálida luz de magnésio.

Ocorre que nesta noite inesquecível, todos fomos brindados com um acontecimento insólito e inesperado, e algo tão excitante quanto a própria brincadeira à que nos entregávamos. Foi neste dia que todos nós vimos pela primeira vez aquilo que se convencionou chamar de OVNI, ou seja, um Objeto Voador não Identificado.

Compunha esta turma eu e meu irmão Weber Daltro, o Isnaldo Coutinho Pereira e os irmãos Walmir e Ivo Valério Caetano. Regulávamos nós na faixa etária compreendida entre os 12 e 15 anos, sendo eu o mais velho. Felizmente, era também o mais gabaritado para saber do que se tratava aquilo que presenciaríamos, uma vez que já fazia 4 anos que eu me debruçava sobre livros de assuntos ufológicos.


Férias de meio de ano

Orismar Barreto e seu filho Adriano, 1975
Era comum nas férias de meio de ano a Usina ordenar a abertura das comportas do “tanque do meio” para que ele fosse esvaziado até certo ponto, que isto facilitaria o trabalho dos funcionários que iam fazer a limpeza do leito do rio livrando-o dos entulhos acumulados. Era quando eles aproveitavam a ocasião para coletar os peixes que ali se criavam, no que utilizavam tarrafas, trabalho este que era feito pelo João Ballotin e um primo meu, o Orismar Barreto, que era um dos novos funcionários da Usina. Estes peixes seriam posteriormente distribuídos à todas famílias das colônias da Usina.

Nós meninos tínhamos por costume brincar durante o dia neste açude sempre que ele era esvaziado para tais fins, mas nesta noite resolvemos brincar aí também. Nos divertimos com uma brincadeira maldosa, onde, munidos de pedaços de pau, fomos nos divertir espantando os sapos e rãs que se apareciam nas pequenas poças d’água que se formavam quando o rio ia baixando. Um sapo assoviava ali, um menino corria “descer a lenha” nele; uma rã coachava adiante, e lá ia outro menino “botar a perereca para correr“...


Isnaldo, Wenilton e Walmir, no ladrão 
do "tanque de cima", em janeiro de 1975
Por outro lado, era o início da época em que esse pequenos animais enchiam as noites estreladas da Usina com suas soturnas e nostálgicas cantorias, que reverberavam tanto na muralha da mata logo adiante como nos próprios prédios da Usina, e eram ouvidas ao longe. Do meu lado, por gostar de batráquios desde os 5 anos de idade, acredito que me comprazia mais em ouvi-los cantando que ficar caçando-os por entre as poças e depois surrá-los, mas é coisa que não posso garantir...  

A noite estava límpida, o ar cristalino e o céu se apresentava em excelente condições atmosféricas, de modo que todo o atrativo céu das noites de inverno era perfeitamente visível.  E, como disse, era noite de Lua em fase de quarto-crescente, o que realçava o azul escuro do céu, tornando-a uma noite mais bela ainda.  

Por volta de nove horas da noite, exaustos de tanto brincar, resolvemos descansar um pouco e ficamos sentados na tubulação de ferro que atravessava o leito do rio, tubulação esta que tinha por finalidade levar água até o lavatório de cana antes de elas tomarem o destino final da moenda.
Ilustração representando os meninos no 
rio e a passagem da sonda (por: Wenilton)


Enquanto conversávamos, como de costume me pus a observar o céu, vendo a Lua baixando no lado Oeste, e quando me voltei para o lado oposto, olhando o horizonte acima da estrada, vi uma pequena bola luminosa se aproximando rapidamente, e, sem dar sinais de que ia parar, veio para cima do lugar onde nos encontrávamos. Gritei para os amigos apontando para o curioso objeto luminoso:

 Olhem aquilo, moçada, rápido!

Foi tudo muito rápido, pois o objeto passou velozmente sobre nossas cabeças, não dando tempo de analisá-lo com maior precisão. Passou à cerca de 20 metros de altura, sendo o seu tamanho igual ou pouco menor que o de uma bola de futebol. Era de cor branco-azulada radiosa, envolvido por uma auréola clara, seguido, ao que parecia, de uma pequena cauda enevoada . Sem emitir qualquer ruído, faísca ou deixar rastro de fumaça, ele passou por nós e desapareceu por cima do eucaliptal próximo ao laranjal do agricultor Sebastião Tramontelli, partindo em direção sudoeste, para os lados da fazenda Santa Serra d’Água. Pela altura que estava, calculo que sua velocidade era superior à 100 quilômetros por hora, deslocando num voo plano e retilíneo.

Foi uma loucura, e ficamos todos abestalhados com o que vimos. Nos entreolhamos boquiabertos, e ficamos sem palavras nos primeiros instantes. 

 Vocês viram aquilo?!


O tanque do meio em 1971. Notar o esvaziamento do mesmo e o cano de coleta d'água. A linha amarela é o trajeto do OVNI.


A reação da meninada

Todos caindo em si, após acompanharmos abismados a rápida passagem luminosa do estranho objeto, que mais lembrava uma esfera de cristal, houve um verdadeiro reboliço entre nós, reagindo cada um à sua maneira.

 Pela madrugada! O que será que era aquilo, moçada?!

 Oceis viram: ele passou baixinho, bem pértico da gente!

 Passou perto seu fióte! Foi só impressão sua, e, aquilo para mim era um meteorito!

 Vê lá, que idéia de jerico! Aquilo era um boitatá, seu tonto!

 Ranhei, credo! Boitatá é assombração!

 Vãocumcarma, seus molóides: eu acho aquilo era uma estrela cadente!

- Não: aquilo era um disco voador, meu!

Foi minha vez de intervir, dizendo que nem todo OVNI tem a forma genérica de pires ou prato:

 Malemá um disco voador! Era sim, mas de outro tipo: aquilo era uma sonda em forma de bola! Eu já li sobre ela em livros de discos voadores!

 Sonda! Como assim: sonda? Fiquei boiando!

Expliquei-lhes:

 Essas esferas luminosas são sondas ufológicas não tripuladas, mas teleguiadas por...

E lá, com meu conhecimento incipiente e as palavras que dominava na época, expus aos amigos sobre o que seria aquele intrigante fenômeno, mas estranhamente, não ficaram tão eufóricos como eu, que desde que tomei conhecimento do fenômeno, estava louco para ver um verdadeiro OVNI.

 Mas é uma sonda que veio de Marte, Wenilton?

 Não sei dizer... mas, pensando bem, moçada, bem que ele podia ter dado uma paradinha aqui e dar umas voltas em torno de nós!

 Cê tá louco, Wenilton! Se ele fizesse isso, eu ia atravessar o tanque correndo feito louco por cima das águas!...

 Há-há-há...


O que dizia o Folclore e a Ufologia?

Weber Daltro, em 1975
Este tipo de avistamento é muito comum às pessoas que moram na zona rural. Os moradores desses locais isolados e escuros, em especial os antigos, dentre outros batismos dão-lhe o nome de Mãe-do-ouro ou Boitatá. Assim, são tidas como entidades e mitos folclóricos, apesar de estas manifestações estarem ligadas também à fenômenos telúricos e atmosféricos, como, p. ex., o fogo-fátuo e o raio bola.  

O raio bola (ou relâmpago globular) seria uma possível explicação para as aparições do boitatá e de entidades semelhantes. O fenômeno pode durar de alguns segundos a vários minutos, e costumam ocorrer perto do ponto de impacto de um raio, mas também são vistos por ocasião de terremotos, erupções vulcânicas, ventanias, tornados e tempestades. Freqüentemente são acompanhadas de cheiro de ozônio, enxofre ou óxido nitroso e produzem zumbidos e estalos. Geralmente explodem, mas às vezes se desvanecem pouco a pouco e outras vezes desaparecem abruptamente. Mas só à partir do século XX, com o surgimento da Ufologia, é que o fenômeno passou também a ser classificado como manifestações de cunho ufológico. 

Assim, não creio que o nosso avistamento fosse um caso de raio bola, pois não atendeu nenhum desses quesitos; além disso, sua trajetória fora retilínea, e não errante como normalmente se dá com este fenômeno atmosférico. Tampouco se tratava também de uma manifestação de fogo-fátuo, pois o objeto visto não guardava qualquer similaridade não se encaixando nos quesitos de fenômeno de emanações telúricas. 


Selo com tema representando a lenda da mãe-do-ouro
No caso em questão, pode-se concluir que se tratava realmente de um caso de avistamento ufológico, a que os especialistas dão o nome “sonda”. De acordo com a classificação ufológica, seria uma sonda do tipo IIa, aparelho do tipo "explorador" e de voo contínuo. Assim, estas bolas luminosas dão a entender que são objetos teleguiados por um controle inteligente e, geralmente, são programadas para fazer trabalhos de “reconhecimento” de uma área.


Constituem elas um tipo de avistamento muito frequente em qualquer região do planeta, e é comum vê-las voando baixo sobre os campos, rios, montanhas, bem como perseguindo veículos, pessoas, aviões e navios que eventualmente se deparam em seu trajeto. Há relatos dessas bolas de luz desde a Segunda Guerra Mundial por pilotos de aviões, que as denominavam “foo-fighters” (combatentes fantasmas). Segundo o ufólogo e general brasileiro Alfredo Moacyr Uchôa, estas sondas tinham até a surpreendente capacidade de obter informações sobre o estado psicológico dos pilotos.

Avião e foo-fighters, na II Guerra Mundial
Quanto à suposta cauda observada, na verdade, ela não existe, e o fato se deve à uma ilusão de ótica causada pela alta velocidade do objeto luminoso, e como à noite os olhos são mais sensíveis e propensos aos efeitos de manifestações luminosas, ocorre o fenômeno conhecido como fosfeno, ou seja, a curta fixação de uma fonte luminosa no campo visual da retina ou do córtex visual, e que aí persiste por um curto lapso de tempo. No caso, o rápido objeto luminoso, ao ser seguido pelos olhos, “imprimiu” o traço de sua passagem na retina, tal como ocorre nas fotos noturnas com exposição de tempo em que se registram estrelas ou automóveis. O fenômeno também ocorre durante o dia quando, p. ex., olhamos para o Sol e depois desviamos rapidamente o olhar para outro ponto. Porém, cita-se que se uma aeronave q aeronave ionizasse o ar ao seu redor durante o voo, ela também deixaria um rastro de ar ionizado atrás de si.



Sim, os discos voadores existiam!...
 
Ivo Valério Caetano, em frente ao "tanque do meio",
local onde se deu o avistamento da sonda. Abril 1975

Desde este avistamento, tive a total certeza de que a existência deste e outros objetos que penetram em nossa atmosfera estava mais do que provada, pelo menos para mim mesmo – a materialidade e a natureza física destes objetos era evidente, “palpável” e incontestável, e não mero fruto das chamadas alucinações induzidas pela psiquê humana. Além disso, e acima de tudo, eu já os avistei diversas vezes, de modo que hoje aceito sua existência implicitamente. O que eu sei dizer é que, desde que tive esta incrível visão, ela me colocou frente a frente com um mundo novo e uma realidade mágica – desde então, eu nunca mais fui mais o mesmo diante do céu.

Antes de partirmos para o final da história, convém sonorizá-la com música adequada:

No dia em que nós meninos avistamos aquela sonda, todos viram-na juntos e ao mesmo tempo, de modo que, ao final, após alguns debates, todos chegamos à mesma conclusão, ou seja, a de que se realmente tratava de um legítimo OVNI.

Walmir Caetano, janeiro 1975
Não sei se esse avistamento está inesquecido pelos amigos, mas, pelo menos em mim ele deixou uma impressão inapagável. Desde esse dia, uma coisa ficou certa: eu jamais ironizaria alguém que me dissesse ter visto um OVNI, e mesmo que eu jamais visse um em toda a minha existência, ainda assim não o faria, uma vez que minha avó Ana – pessoa da mais alta idoneidade –, anos antes já havia me ensinado que há coisas estranhas neste mundo que tem que ser entendidas e respeitadas, e, jamais me esqueço, que foi pela boca dela que ouvi pela primeira vez em minha vida a palavra Bitatá, o fascinante mito folclórico das noites dos sertões brasileiros, de que falarei adiante.

Três décadas depois da visão desta sonda, voltei e ver um outro objeto do tipo, mas desta vez pairando sobre a estação elétrica existente na estrada que leva à usina São João, pouco adiante da hoje extinta fazenda São Tomé. Vi-lo numa noitinha quando chegava para as aulas na “Hermínio Ometto”, a faculdade onde então estudava. Por cerca de meio minuto, o estranho objeto se manteve  fazendo manobras ali, ora subindo, ora descendo, mudando de cor e de tamanho, portanto, podendo ser visto mais demoradamente enquanto executava suas sutis manobras.


Seria a Usina um host post ufológico?

À esta altura, poderia perguntar, qual seria o motivo de esta sonda estar zanzando solitariamente por aquelas esquecidas paragens da Usina às desoras. Ufólogos afirmam que a aparição destas sondas costuma anteceder manifestações e até mesmo contatos com objetos maiores, ou seja, as naves de onde elas se originam. Elas surgem sozinhas ou em grupos, realizando trabalhos de pré-contato com naves e seres extraterrestes. Sua aparição num lugar geralmente significa que um contato mais próximo com veículos não terrestres e seus ocupantes pode se dar a qualquer momento.

Infelizmente, como se viu, nada disso se deu: observamos só a passagem da sonda e nada mais; mas quem sabe se nós não estivéssemos num lugar alto, não teríamos visto pairando pelas cercanias uma possível “nave-mãe” – um disco ou “charuto-voador” – que a havia despachado para algum canto da Usina.


OVNI do tipo Orb, muito semelhante à sonda em questão. Foto: autor
Pelas minhas inúmeras noites de observação do céu por mais de meia década na Usina, poderia afirmar que aquele lugar não era propriamente um host post ufológico, ou seja, um lugar com frequentes ocorrências deste tipo de fenômeno, mas, de certo modo, de quando em quando alguém via alguma coisa interessante passando por ali. Infelizmente, não me passou pela cabeça naquela época entrevistar os moradores mais antigos do lugar e das redondezas, e, se o fizesse, com muita certeza teria recolhido algum material de valor.

Esta região que compreende a Usina Palmeiras e as fazendas e sítios de entorno, tem sim uma discreta casuística ufológica e que ainda está por ser coletada e estudada, embora os que poderiam ser entrevistados, ou faleceram ou se mudaram dali quando a Usina encerrou suas atividades em 1992, fatos estes que complicam enormemente o trabalho de coleta de material. Meus avós paternos viram, talvez na década de 1940, a chamada “Loira-de-sete-metros”, ou “Cresce-míngua”, que, na verdade, era uma nave apagada lançando abaixo dela a chamada “luz de tração” sistema usado para abduzir tripulantes, pessoas ou animais que se encontram em terra, e até mesmo automóveis. Este mesmo fenômeno foi visto também na mesma região anos depois por um morador e sitiante da Usina, o agricultor “Neco” Marques. Eu próprio vi pelo menos quatro fenômenos ufológicos nessa região: primeiro, um objeto luminoso anômalo no segundo semestre de 1973; segundo, uma visão vaga de um objeto em forma de asa clara e opaca passando em voo alto em 1974; terceiro, a sonda em questão; o quarto, na mesma época, que na verdade era um trator manobrando em meio à um canavial à noite, e por último, em setembro de 2012, um chamado “Orb” (foto acima), ou seja, um OVNI do tipo sonda, que é invisível à olho nu mas que pode ser captado pelas modernas câmeras fotográficas digitais, objeto aliás que eu fotografei. No ano anterior, em 11-12-1975, um contador que trabalhava no escritório da Usina junto de meu pai, o Luiz Carlos de Góes, certa noite indo de carona para a cidade em cima de um caminhão, teve a felicidade de avistar seis OVNIs ovalados e multicoloridos passando por cima da Usina indo em direção sudeste. 

Posto isto, se pode concluir que o fenômeno ali no mínimo tinh uma relativa recorrência, mesmo que fosse com uma baixa frequência. Repito que pesquisas empreendidas nesta região com moradores remanescentes, com certeza revelariam muito casos esquecidos necessitando de uma abordagem crítica, e que permanecem alheios aos ufólogos da cidade.



O nome de um rio acusa uma milenar casuística ufológica

Ilustração com a legendária Cobra-Grande, ou Mboi-açu
Convém lembrar que o nome do principal rio que corre na divisa de Araras e a cidade de Conchal, ou seja, o rio Moji-Guaçú, é derivado de uma criatura que em tupi-guarani é conhecida como Boiaçu, de mboi e açu, "grande", ou ainda Cobra-grande, um mito ameríndio difundido por todo o Brasil.
 
Já o nome Boitatá vem do tupi mbaeta'ta, formado de mba'e, "coisa" e ta'ta "fogo". Segundo o dicionário Houaiss, a palavra transformou-se por confusão e interferência do tupi mboya, "cobra", tornando-se "cobra de fogo". Em 1560, escrevia-se baê tatâ, em 1706 baetatá, em 1872 boitatá e em 1876 mboitátá. A entidade também é chamada (mais de acordo com a etimologia original) baitatá ou batatá no Centro-Sul. Também é denominada biatatá na Bahia, batatal em Minas Gerais e bitatá em São Paulo.

Ainda segundo o Houaiss, o Boitatá é simbolizado por uma cobra de fogo ou de luz com dois grandes olhos, ou por um touro que lança fogo pelas ventas e está relacionado tanto à indicação de tesouros ocultos quanto à proteção dos campos contra queimadas. 

E tal como seu deu com o raio-bola, com o surgimento da Ufologia os mitos da Cobra-grande e do Boitatá também passaram a ser classificados como manifestações de OVNIs em nossos meios. Assim, uma cobra grande poderia tanto ser um OVNI, ou seja, uma nave luminosa alienígena qualquer se manifestando no leito do rio. Já o Boitatá seria ou uma sonda como a que vimos, ou mesmo um OVNI de pequenas dimensões. Desse modo, convém lembrar que os mitos da Cobra-grande e do Boitatá se confundem devido não só à semelhança de suas luzes, mas também por surgirem frequentemente nos mesmos locais. 


Corredeira do rio Mogi-Guaçú, em sua porção no município de Araras
Portanto, se poderia dizer que o nome Moji-Guaçú dado ao rio, traz em seu bojo uma alusão milenar à possíveis manifestações ecológicas que ocorriam tanto no rio quanto em suas adjacências. É fato que se perde na noite de tempos e tem raízes em eventos ocorridos muito antes do descobrimento do Brasil. 

Posto isto, lembremos enfim que a Usina Palmeiras está à pouco mais que 15 quilômetros deste importante rio, portanto, ambas são áreas muito próximas se levarmos em conta parâmetros ufológicos. E convém não esquecer que todos os ribeirões e córregos, seja o Água Branca que passa pela Usina, seja o Córrego Fundo ao sul e seja o córrego Santa Cruz ao norte, todo se dirigem para o leste buscando o rio Mogi Guaçú.

O que posso garantir, é que mesmo que a Usina e suas adjacências não compusessem um “perfeito” host post ufológico, naquela época, e atualmente também, os OVNIs, por mais discretos que fossem, “estavam no ar”, literalmente...


“If You Could Remember”... 


David Vincent, da série 
"Os Invasores", 1967
Quanto à mim, relembro satisfeito que desde que travei meus primeiros contatos com o tema Ufologia através dos inúmeros livros que retirava na Biblioteca Municipal de Araras, eu sempre fui obcecado para ver um verdadeiro OVNI, e vale relembrar que foi o célebre livro do George Adamski e do Desmond Leslie, o saboroso “Discos Voadores”, que me jogaram de cabeça no tema. Na verdade, eu sabia da existência de discos voadores desde a estreia no Brasil da ótima série “Os Invasores”, com o ator David Vincent, Fora em 1967, já quando nos mudamos para a Usina.  Àquela idade, aos 6 anos, assistir à esta série era experimentar um medo constrangedor, que tudo nela era muito sinistro e de um suspense amedrontador: ver aquele OVNI pousando no meio do mato diante do personagem metia medo, além da música de abertura, que era arrepiante.

Raul Seixas, na capa da revista "Mùsica", ago. 1976
E já que estamos falando de música, fora um mês lindo este – o memorável julho de 1976! Lembro-me que íamos assistir filmes nos finais de sábado à tarde no Cine Araruna, e antes das sessões rolava nos alto falantes belíssimas canções que, pela frequência com que eram executadas, marcaram por demais este lugar nesta época. Como esquecer a tocante “If You Could Remember” – cujo cantor era um tal de Tony Stevens – nada mais, nada menos que o finado Jessé. Décadas depois fui descobrir que esta música é uma adaptação do tema “Arioso” (Sinfonia da Cantata 156 em Fá Maior) do compositor clássico Sebastian Bach.

Esta música, toda vez que a ouço me remete ela àqueas tardes de sábado em frente à este cinema esperando o início das sessões, mas “Dolannes Melodie (Flute de Pan)” – “a música da flautinha” –, com o interprete Jean Claude Borelly, foi a canção que se tornou uma espécie de marca registrada deste cinema: era ouvi-la e ter sua memória remetida à ele no ato. No entanto, a mais bela de todas que aí rolavam era “Happy”, com o então pré-adolescente Michael Jackson – para mim, em sua melhor fase musical. Outra, também com arranjo de música clássica foi “Ária For The Lovers”, com um suspeito cantor que atendia pelo nome de Mark Davis – pseudônimo usado pelo futuro galã Fábio Jr.!... Curiosamente, se tornaram ambos então, o Jessé e o Fábio Jr., os dois cantores que com estes dois grandes sucessos decretaram sem o saber a morte do movimento “Made in Brazil”, aquele onde cantores brasileiros gravavam em inglês.


No campo literário, a novidade era o “cantor dos discos voadores” que já no mês seguinte estrearia na capa da principal revista destinada aos músicos profissionais e amadores de então, a saudosa revista “Música”, da editora Imprima. Me refiro ao Raul Seixas, que na foto se mostrava com a famosa imagem que o consagrou: a barba, o ray ban escuro e a famosa boina à la Che Guevara! Num determinado trecho da entrevista, ele disse: “Eu aprendi devagarzinho, com o tempo, que eu tenho de estar com um pé na terra e outro no céu”...

Jornal "Notícias Populares", 18-7-1976
Coincidentemente, o então polêmico jornal, o Notícias Populares, na edição de 18 de agosto, trazia a seguinte manchete em sua primeira página: “Todo o Brasil em vigília para ver discos voadores”. O mesmo se dava nos EUA, onde UFOS eram visto por todos os lados. E nem preciso dizer aos meus leitores que depois que vi a tal sonda, pretendi intensificar mais ainda minhas vigílias ufológicas nas noites da Usina, mas uma mudança abrupta e impensada em minha vida abortou esta minha intenção, como se verá... Ainda nesta edição, ao lado da supracitada notícia dos discos voadores, podia ser ler a bizarra nota, nota aliás bem típica deste jornal para lá de sensacionalista: ”A Viking I fabricará monstros em Marte”...

A atleta Nadia Comaneci
Mas é óbvio que neste mês de julho outras coisas belas também disputavam minha atenção – como esquecer da belíssima menina Nadia Comaneci, a célebre atleta romena colocou o planeta em frente às TVs nas “Olimpíadas de Verão do Canadá”?

Vale lembrar que no mês anterior havia estreado na TV uma série de ficção científica muito linda, a “Espaço: 1999”, do produtor Gerry Anderson, que fora o mesmo criador de outra série que eu gostava mais ainda, a incrível “UFO”, com aqueles seus discos voadores enigmáticos.  Por fim, “Espaço: 1999” fora a última série do gênero que eu conheci ainda estando na Usina, isto, estando por acaso numa noite na casa dos vizinhos Coutinho Pereira. Porém, infelizmente, não só não assisti à esta estreia como também nunca mais a assisti quando estava na cidade, com a cabeça “desvirtuada” que estava devido à outros entretenimentos, menos interessantes, porém...

“A Invasão dos Discos Voadores”,
Brinsley Le Poer Trench, 1976
Porém, por estes dias, eu andava tão eufórico e entusiasmado com discos voadores, que era neles e tão somente neles que eu pensava, e mal se iniciaram as férias de meio de ano, fui correndo comprar aquela novidade que viria a ser o meu primeiro livro de Ufologia, o ótimo “A Invasão dos Discos Voadores”, do ufólogo francês Brinsley Le Poer Trench. Nele, estampada na primeira página, até hoje está anotada à normógrafo uma data muito importante para mim: “02-07-1976”. A data, uma sexta-feira, mostra o dia seguinte ao meu debout no primeiro emprego de minha vida, na profissão de desenhista, quando voltei a morar na cidade e, sem me dar conta disto, mostra ela
também a infeliz data em que, por uma decisão insensata, abandonei de vez as minhas instigantes noites de vigília na Usina. E mais triste ainda, abandonaria de vez as reais chances de ver outros de seus belíssimos e estranhos OVNIs que eventualmente davam o ar de sua graça nos céus da Usina!... 


A sonda Viking 1, em 1976
Por fim, não soube responder ao meu amigo se a sonda que vimos era proveniente de Marte ou não, mas se os marcianos realmente existiam, eram eles que, àquela altura, deviam estar vendo algo alienígena em seu meio, digo, um artefato humano invadindo seu planeta, pois a já citada sonda norte-americana Viking I, desde o 19 de junho anterior vinha orbitando serenamente os céus do Planeta Vermelho...

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* Este capítulo faz parte do  Volume 8 - Childhood's end ― janeiro de 1975 a abril de 1977". O livro está em processo de confecção sem prazo para lançamento.


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