“Não olhará para a posteridade,
para os descendentes, quem nunca
olhar para os antepassados.”
(Edmund Burke, político
irlandês, 1729-1797)
"Toda vida que merece ser
vivida merece ser biografada."
(Samuel Johnson.
Escritor, 1709-1784)
“Para cobreiro, é remédio infalível dar-se
três machadadas no portal da cozinha (...).”
(Memórias. Brito Broca. 1968)
“Para cobreiro, é remédio infalível dar-se
três machadadas no portal da cozinha (...).”
(Memórias. Brito Broca. 1968)
O agradável exercício de contar histórias
de episódios passados e relembrar as pessoas de outrora que já não mais participam de nosso convívio — e muitas não sabemos o paradeiro, e até mesmo se estão vivas! O lamentar as que não mais existem, mas que nunca esquecemos, que
vital importância tiveram para nós.
Hoje, dentre as pessoas que já deixaram
nosso plano, quero falar de uma que, por suas qualidades e importância,
jamais esqueci — e não haveria como! —, uma vez que foi ela uma dessas muitas
benzedeiras que ainda existem pelo interior do país, uma mulher humilde e despojada,
mas que curava sem ônus algum, “medicando” apenas levada pelas práticas da filantropia, da caridade e da compaixão.
Tanto a Antropologia quanto a Sociologia
provaram que o fenômeno de benzedeiras é explicado pelo estreito laço e crença que
existe entre o paciente e o curador, fato que é desencadeado por atividades
cerebrais que favorecem a auto defesa no organismo. Independente dessa comprovação, sempre
acreditei nesses “médicos populares”: as rezadeiras e benzedeiras, uma vez
que, sem a intercessão de um deles em meus primeiros anos (desenganado que estava), eu não estaria aqui
hoje, história esta que narro com detalhes em
outro capítulo.
Assim, houve na
minha infância três benzedores aos quais foi confiada a cura de meus males: o
primeiro, o senhor José Giacomini, que me benzeu daquilo à que se denominava
“bucho-virado”, e, assim, felizmente, me salvou da morte em minha primeira infância; o segundo, a
minha querida avó Ana Rocha, que benzia à todos da família em inúmeros males,
e, por fim, uma benzedeira da fazenda Palmeiras, a mesma que citei anteriormente,
uma típica curandeira tradicional da roça, e que comentarei a seguir. Porém, antes de falar sobre esta notável mulher, preciso dar continuidade à história com outros dados importantes que me levarão até à sua pessoa.
A borboleta-do-manacá
|
Pupa da borboleta-do-manacá |
Os três estágios de cores da flor do manacá. |
Outro pormenor que também me chamava a
atenção neste “consórcio” planta-inseto era o fato de o manacá possuir flores
de três cores diferentes, que quando desabrocham, primeiramente são roxas; no segundo passo alteram para o lilás, para no estágio final tornarem-se brancas,
destacando-se o curioso fato de que flores nos três estágios de cores são encontradas juntamente na mesma
planta, o que lhe dá um atrativo bastante especial.
“Pegou
cobreiro da largata!”
Lagartas da borboleta-do-manacá (Methona themisto) |
Desnecessário dizer que, pelos atrativos ornamentais dessa lagarta, elas eram objetos constantes de nossas inocentes brincadeiras. Ocorre que, estranhamente, dias depois, surgiam manchas e coceiras na região do pulso, e o local ficava marcado por trilhas avermelhadas lembrando uma estreita pulseira, o que também, curiosamente, ocorria às vezes no entorno da canela, mas não estou muito certo disto.
Mas será mesmo que essa lagarta era a
responsável pelo tal de "cobreiro", como nos fizeram acreditar? Pois era o que diziam os
adultos: “Pegou cobreiro da largata!”... Atentar para o “largata”, pois era
assim que as pessoas ra roça falavam naqueles tempos, do mesmo modo como falam “largato” (lagarto), “carlota” (calota) etc., e outras não menos exdrúxulas como "cardaço" (cadarço), "casa germinada" (geminada) e a moderna “betorneira” (betoneira)...
Na verdade, acredita o povo que o mal cobreiro é provocado por diversos animais além da “largata”, como, p. ex.: cobra (de onde veio o nome), aranha, lagartixa e o sapo. Se diz, por exemplo, que, quando uma cobra passa em cima das roupas estendidas no quaradouro de um quintal, podem ser contaminadas com o cobreiro. Por isso, não se deve vestir as roupas lavadas sem passá-las a ferro quente, que, assim, pelo alto calor mataria o veneno... Em Minas Gerais, crê-se que uma pessoa segura uma lagartixa com a mão, pega cobreiro, mas o antigos em geral acreditavam que se contraía isso no contato com cobras, coisa que, na verdade, ninguém se atreve a fazer... Do mesmo modo, muito provavelmente influenciado pela crendice dos pais e pessoas mais velhas, nós crianças acreditávamos que as lagartas da borboleta é que nos passavam o cobreiro.
Na verdade, acredita o povo que o mal cobreiro é provocado por diversos animais além da “largata”, como, p. ex.: cobra (de onde veio o nome), aranha, lagartixa e o sapo. Se diz, por exemplo, que, quando uma cobra passa em cima das roupas estendidas no quaradouro de um quintal, podem ser contaminadas com o cobreiro. Por isso, não se deve vestir as roupas lavadas sem passá-las a ferro quente, que, assim, pelo alto calor mataria o veneno... Em Minas Gerais, crê-se que uma pessoa segura uma lagartixa com a mão, pega cobreiro, mas o antigos em geral acreditavam que se contraía isso no contato com cobras, coisa que, na verdade, ninguém se atreve a fazer... Do mesmo modo, muito provavelmente influenciado pela crendice dos pais e pessoas mais velhas, nós crianças acreditávamos que as lagartas da borboleta é que nos passavam o cobreiro.
Nega
Ângela Salmazzo, à esquerda |
A Ângela tinha um certo parentesco conosco, pois, se não me engano, uma tia-avó sua fora casada com um irmão de nosso avó paterno. Foi uma das primeiras famílias que visitamos tão logo mudamos para ali. Morava ela com família numa das casas da “colônia de cima”. Ainda me lembro desse dia quando fomos visitá-los, e vi um avião de lata pendurado no beiral da residência, e esse avião me encheu de cobiça, louco que eu era por estes brinquedos. Lembro-me também que sua casa parecia tão grande, o quintal imenso, cheios de árvores, uma horta, mas, hoje, quando passo por ali e revejo aquilo tudo, Cristo, como era pequeno! O fato faz-me rir hoje toda vez que, não sei porquê, ouço a singela canção “Álbum de família” do Renato Teixeira, onde ele canta:
“Nove vezes nove
Quase que me bota louco,
E hoje o resultado
Deus no céu, vale tão pouco!”
Engraçado era o apelido que à Ângela tinha à época — para o nosso estranhamento, chamavam-na de Nega, lembrando que era loira e de pele muito clara, meio germânica. De todo modo, não era um apelido pejorativo, mas sim um evidente tratamento carinhoso dado por sua família.Quase que me bota louco,
E hoje o resultado
Deus no céu, vale tão pouco!”
Vale lembrar que a Ângela, ao vir trabalhar com nossa família, substituiu a Neide, uma prima nossa que cuidava de nós quando ainda morávamos na cidade. Peço vênia aqui para lembrar que os pesquisadores do infância humana afirmam que no chamado Período da Latência — que vai dos 6 aos 10 anos — a criança não precisa de vida social, e as únicas pessoas em que se espelham são os professores — que geralmente passam a ser paixão da criança, assim como os heróis das ficções com os quais se identificam profundamente. Mas acontece que a Nega não era nem professora nem heroína, o que não a impediu de, mais que uma empregada, ser uma espécie de guardiã nossa, e, com certeza, muita coisa nos ensinou, nos prevenindo, como se vê, dos males cotidianos que havia naquele rústico lugar que se afigura tão cheio de perigoso à gente da cidade.
Lembro-me ainda, quando, certa vez, uma enorme cobra apareceu no jardim da casa da família Lima, e nós crianças, que brincávamos ali perto, amedrontados, entramos em desespero. Quando alguém gritou que havia visto uma “baita” cobra passando ao lado da moita de hortênsias que ali havia — e depois começou uma gritaria só! —, a Nega foi a primeira a nos acudir, antes mesmo que os adultos se armassem de paus e pedras para dar cabo da invasora.
À esta altura, o leitor deve estar aí pensando com seus botões, que foi esta cobra que nos causou cobreiro. Pois bem: não foi, já que jamais cobra alguma tocara nossas vestes, e, para que isso ocorresse (fazendo jus à crendice), seria necessário que elas tivessem sido contaminadas por uma, já que todos nós contraímos esse mal.
Enfim, a benzedeira em questão era a senhora Lazara do Rosário Sebastião (1917-1991), conhecida popularmente como “Dona Lazinha”, uma notável benzedeira de crianças, da qual se dizia que não havia o que ela não curasse. Em seus trabalhos, não abria mão de um terço enorme e um indefectível e velho machado que talvez ainda exista, guardado com carinho pelos filhos. Aliás, seu filho Lourival contou-me que ela era orientada por um guia espiritual e, ao contrário de outros benzedores, costumava não falar muito enquanto benzia. Ao final do benzimento, dizia à pessoa quais os procedimentos a serem tomados após o trabalho.
O Seu Paulo me disse um dia que a dona Lazinha avida toda cozinhou com gordura de porco, aliás, como todos sempre gostaram na família. Um dia ele lhe perguntou curioso:
─ A senhora não pensa em morar na cidade, dona Lazinha?
─ Morá na cidade, aquele inferno?! Cê tá louco, Seu Paulo! Aqui tem paz, religião amor e fartura! E eu preciso mais do quê?!
Quando ia para cidade, ia a contragosto, forçada, porque, segundo ela, a cidade lhe fazia mal, dava “enjoo no bucho”. Ela, decididamente, não gostava da cidade, embora orgulhasse de Araras:
─ Quando eu vou pra lá fico doente. Vortano aqui pra fazenda eu saro num instante!
Morar na casinha da fazenda, naquela colônia como que parada no tempo, era a suprema felicidade dela, e era o que lhe bastava. Sim, uma casa onde o tempo parece ter parado mesmo ─ era aquele tipo de lugar onde não precisaríamos entrar numa máquina do tempo para voltar uns 50 ou 80 anos atrás...
Mas, retornando ao “isolamento” do cobreiro, havia até criança que chegava a contornar o cobreiro desenhando um arco feito com caneta esferográfica azul. O objetivo era “cercar o cobreiro” com a tinta, para impedir que os dois lados da erupção avançassem pela pele e se encontrassem, o que significava que “evitar que a boca da cobra se juntasse à cauda”, pois diziam que isto resultaria na morte da pessoa...
— Nega combinou com a benzedeira que
À esta altura, o leitor deve estar aí pensando com seus botões, que foi esta cobra que nos causou cobreiro. Pois bem: não foi, já que jamais cobra alguma tocara nossas vestes, e, para que isso ocorresse (fazendo jus à crendice), seria necessário que elas tivessem sido contaminadas por uma, já que todos nós contraímos esse mal.
Dona Lazinha
Dona Lazinha |
Retornando ao nosso caso, previamente, a Nega combinou com a benzedeira que “dia tal” iríamos visitá-la, e assim se deu. Lembro-me vagamente do dia desse benzimento — era uma data qualquer do ano de 1967, ou seja, o ano em que nos mudamos para ali. Para ir até a casa da Dona Lazinha, não cortamos caminho indo pelo caminho junto laranjal do Tramontelli, caminho este que levava ao “rio de cima”, e indo-se pela barragem, tinha-se acesso à colônia da fazenda pelo lado de baixo. Para as crianças que éramos, era perigoso ir por ali, pois teríamos de atravessar a comporta, pulando um pilar que havia no meio do ladrão, e, quiçá, nos depararmos com alguma cobra... Desse modo, fomos pelo caminho que levava à venda do então Amador (que antecedeu o Borella e João Vichietini), e da venda à colônia.
Após adentrarmos a sala, nos sentamos em cadeiras de palhinha antes de se iniciar a sessão de benzimento. Na parede caiada da sala, via-se dois quadris de retratos da família coloridos na velha técnica de bromóleo. Me levantei e fiquei olhando atentamente um deles. Ao notar-me, a dona Lazinha explicou:
─ Olha, minino: nesse aqui é vovó e vovô; naquele, mamãe e papai e nóis criança. Ói, que beleza! Agora preciso mandá fazê uma foto nova de eu e mia família, e a sala vai tá completa.
De pronto se notava o rigor com que criara seus filhos e se orgulhava disso ─ criou-os, porém, exemplando-os quando pequenos com uma providencial varinha de marmelo...
─ Os marmanjão me obedece até hoje!
O Lourival, encolhido num canto, mal esboçando um riso amarelo, fez um sinal de positivo acenando com a cabeça.
Em seguida, a bandosa mulher dirigiu-se ao quintal, e logo voltou com um enorme machado nas mãos. Nos entreolhamos assustados. O Wagner murmurou:
─ Nossa, o quê ela vai fazer com esse machado?!
Calmamente, ela nos explicou como seria o benzimento e como teríamos de proceder. Após colocar-me em pé abaixo da porta, a benzedeira bateu três vezes com o tal machado no batente superior ao mesmo tempo em que, num tom de voz quase inaudível, disse uma fórmula interrogativa mais ou menos assim: “O que eu benzo?”, no que eu tinha de fazer o “responso”, ou seja, dizer: “Cobreiro”.
Ao final do trabalho, ela orientou a Nega:
─ As força que cura as moléstia e protege é chegá em casa e orá o Padre Nosso, a Ave Maria e o Glória Padre, e sempre treis veiz cada.
─ Mas acho que as crianças não sabem rezar esta última, dona Lazinha.
─ Então reza só as duas premera, ou ensina elas se você soubé, Nega.
Não me recordo se, além das orações, ela nos deu alguma orientação pós-benzimento, e mesmo se teríamos de voltar outras vezes lá, já que o comum era ocorrer o “tratamento” em três sessões. Porém, outro dia, décadas depois, conversando sobre esta passagem com a Nega, ela me revelou:
─ Ela me disse que se o cobreiro voltasse, era para passar um pouco de sumo de tronco da banana-de-São-Tomé que era tiro e queda.
Esse curioso ritual, à princípio nos metia medo, pois ver aquele velho machadão sendo erguido acima das nossas cabeças, e depois ser socado no batente assustava. No entanto, após deixarmos sua casa, íamos pelo caminho rindo e imitando os dizeres de seu benzimento: enquanto um irmão perguntava: “– O que eu benzo?”, o outro respondia: “Cobreiro!” Às vezes a brincadeira descambava em pura gozação: “Te benzo, te curo, com bosta de burro!”, no que a Angela nos repreendia...
— Mais respeito com a dona Lazinha, meninos!
Recordo-me também que, nesta época, as pessoas costumavam “isolar” as feridas do cobreiro com tintura de azul de metileno. Na verdade, esta tintura é bactericida e se diz que alivia as coceiras. O azul de metileno podia ser obtido na farmácia da Usina com o Seu Paulo, o farmacêutico; aliás, a dona Lazinha foi cozinheira de sua família anos antes do período em que se passa esta história.─ Olha, minino: nesse aqui é vovó e vovô; naquele, mamãe e papai e nóis criança. Ói, que beleza! Agora preciso mandá fazê uma foto nova de eu e mia família, e a sala vai tá completa.
De pronto se notava o rigor com que criara seus filhos e se orgulhava disso ─ criou-os, porém, exemplando-os quando pequenos com uma providencial varinha de marmelo...
─ Os marmanjão me obedece até hoje!
O Lourival, encolhido num canto, mal esboçando um riso amarelo, fez um sinal de positivo acenando com a cabeça.
Em seguida, a bandosa mulher dirigiu-se ao quintal, e logo voltou com um enorme machado nas mãos. Nos entreolhamos assustados. O Wagner murmurou:
─ Nossa, o quê ela vai fazer com esse machado?!
Calmamente, ela nos explicou como seria o benzimento e como teríamos de proceder. Após colocar-me em pé abaixo da porta, a benzedeira bateu três vezes com o tal machado no batente superior ao mesmo tempo em que, num tom de voz quase inaudível, disse uma fórmula interrogativa mais ou menos assim: “O que eu benzo?”, no que eu tinha de fazer o “responso”, ou seja, dizer: “Cobreiro”.
* * *
Ao final do trabalho, ela orientou a Nega:
─ As força que cura as moléstia e protege é chegá em casa e orá o Padre Nosso, a Ave Maria e o Glória Padre, e sempre treis veiz cada.
─ Mas acho que as crianças não sabem rezar esta última, dona Lazinha.
─ Então reza só as duas premera, ou ensina elas se você soubé, Nega.
─ Ela me disse que se o cobreiro voltasse, era para passar um pouco de sumo de tronco da banana-de-São-Tomé que era tiro e queda.
— Mais respeito com a dona Lazinha, meninos!
* * *
O Seu Paulo me disse um dia que a dona Lazinha avida toda cozinhou com gordura de porco, aliás, como todos sempre gostaram na família. Um dia ele lhe perguntou curioso:
─ A senhora não pensa em morar na cidade, dona Lazinha?
─ Morá na cidade, aquele inferno?! Cê tá louco, Seu Paulo! Aqui tem paz, religião amor e fartura! E eu preciso mais do quê?!
Quando ia para cidade, ia a contragosto, forçada, porque, segundo ela, a cidade lhe fazia mal, dava “enjoo no bucho”. Ela, decididamente, não gostava da cidade, embora orgulhasse de Araras:
─ Quando eu vou pra lá fico doente. Vortano aqui pra fazenda eu saro num instante!
Morar na casinha da fazenda, naquela colônia como que parada no tempo, era a suprema felicidade dela, e era o que lhe bastava. Sim, uma casa onde o tempo parece ter parado mesmo ─ era aquele tipo de lugar onde não precisaríamos entrar numa máquina do tempo para voltar uns 50 ou 80 anos atrás...
Mas, retornando ao “isolamento” do cobreiro, havia até criança que chegava a contornar o cobreiro desenhando um arco feito com caneta esferográfica azul. O objetivo era “cercar o cobreiro” com a tinta, para impedir que os dois lados da erupção avançassem pela pele e se encontrassem, o que significava que “evitar que a boca da cobra se juntasse à cauda”, pois diziam que isto resultaria na morte da pessoa...
A
verdade sobre o cobreiro
A trilho do bicho geográfico nos pés. |
Hoje sabe-se que
podem ser dois os agentes causadores do
cobreiro: um, a Larva migrans, o
popular bicho geográfico (Ancylostoma braziliensis), que é um verme que vive no intestino dos cães.
Quando os cães defecam, os ovos vem ao chão junto com as fezes, e dele saem as
larvas que voltam a infectá-los entrando-lhes pela pele. As larvas, ao penetrar
na pele humana, causam uma dermatose, e por estar em pele humana, ela não
consegue se aprofundar para atingir o intestino (o que ocorre normalmente no
cão e no gato); assim, caminha sob a pele formando um túnel tortuoso e
avermelhado. Essa parasitose é mais comum em crianças, que ao sentar em locais
contaminados como o chão, a areia da praia ou até na caixa de areia da escola.
Por causa disso, os locais mais comumente atingidos são os pés e as nádegas. As
lesões são geralmente acompanhadas de muita coceira.
O outro agente é o vírus
do Herpes zoster, uma
doença viral causada pelo Varicella-zoster
virus, o mesmo vírus causador da varicela
(catapora),
daí o fato de ser conhecido também como “catapora dos adultos”. Sabe-se que, uma vez contagiados com esse vírus, ele nunca
abandona nosso corpo. Ele permanece secretamente nas células nervosas anos
depois de você tê-lo contraído na infância. Se ela foi leve, pode ser que você
nem se lembre de ter tido esta doença. Um dia, ele pode reaparecer na vida
adulta, sendo reativado por lesão na área afetada, ou por problemas
físicos e até mesmo emocionais. A
infecção cria uma erupção cheia de vesículas, gerando coceira e
dor na região
do nervo afetado. O termo zoster origina-se do latim e do francês e está relacionado à cinta
ou cinturão devido à forma como as bolhas se espalham no corpo. Ao contrário do bicho geográfico, essa forma de cobreiro ataca as pessoas depois dos 50 anos, e desconfia-se que seja divido ao
sistema imunológico estar fraco.
Citei anteriormente que os adultos nos disseram que contraímos o cobreiro no contato com a citada lagarta, mas, de acordo com as pesquisas que fiz para este texto, constatei que cometi dois enganos que duraram décadas — e enganos desfeitos com uma certa "decepção" —, ou seja, em nosso caso, o cobreiro foi devido não ao vírus da Herpes zoster (nem à lagarta), mas sim ao bicho geográfico, lembrando que como meu pai sempre criou cães, sempre estávamos em contatos com eles brincando pelo quintal, e provavelmente fomos contaminados por suas fezes. E mais, como vimos, herpes é coisa de gente adulta. E eu, que por anos à fio acreditei serem as lagartas as responsáveis, quando vi em fotos a diferença entre as trilhas contínuas do bicho geográfico e as bolhas dispersas da herpes, não tive mais dúvidas.
As pequenas bolhas da Herpes zoster |
Citei anteriormente que os adultos nos disseram que contraímos o cobreiro no contato com a citada lagarta, mas, de acordo com as pesquisas que fiz para este texto, constatei que cometi dois enganos que duraram décadas — e enganos desfeitos com uma certa "decepção" —, ou seja, em nosso caso, o cobreiro foi devido não ao vírus da Herpes zoster (nem à lagarta), mas sim ao bicho geográfico, lembrando que como meu pai sempre criou cães, sempre estávamos em contatos com eles brincando pelo quintal, e provavelmente fomos contaminados por suas fezes. E mais, como vimos, herpes é coisa de gente adulta. E eu, que por anos à fio acreditei serem as lagartas as responsáveis, quando vi em fotos a diferença entre as trilhas contínuas do bicho geográfico e as bolhas dispersas da herpes, não tive mais dúvidas.
Sacerdócio e caridade
Walter Daltro com os quatro filhos "contaminados": Wenilton,
Wagner, Weber e Waltinho, no ano anterior, ou seja, 1966. |
Mas, o que havia por trás da magia encantatória desta benzedeira? Quais eram suas fórmulas secretas, faladas ou escritas, os números e cantigas mágicas? Infelizmente, nada se registrou, e tudo ela levou consigo. Quanto a mim, sequer me lembro com detalhes do que realmente ela dizia durante o benzimento e o que tínhamos que responder ─ o que escrevi acima são vagas lembranças. Dizem que para curar, é a força da elevada substância anímica da benzedeira que atua, e a reza e os ensalmos são somente um meio de chegar até ela. Quando ela se concentra, isto faz vibrar sua substância anímica impregnando-o da força curadora. De todo modo, manda a conveniência que eu me detenha por aqui, porque dentro uma lógica racional não me seria “lícito” tentar decifrar os segredos destas coisas místicas e sobrenaturais, porque é justamente nesta área que as rezadeiras atuam, e, a nós, meros mortais, cabe-nos apenas participar com nossa fé.
Infelizmente, pessoas especiais como a nossa querida dona Lazinha, hoje, são raras de se encontrar nas cidades do interior paulista, e o benzimento é uma prática que cada vez menos tem adeptos, pois as novas gerações não tem tempo nem interesse em aprender, seja por falta de convivência com o sagrado, seja pela descrença generalizada; além do que, o poder de "benzeção" só pode ser recebido de um benzedor. Felizmente, ina que poucas, remanescentes desse ofício mágico ainda estão por aí — raras nas cidades e algumas pelas zonas rurais do interior do país —, sendo, porém, praticado geralmente por pessoas mais velhas, que aprenderam-no com suas mães e avós. Mas o que espanta mesmo é que quando varremos o tempo, vindo do passado até os tempos modernos, constatamos a perenidade do fenômeno das benzedeiras, a sua presença constante, e até vital, como alternativa à medicina tradicional na história da raça humana.
A então residência da Dona Lazinha, a entrada da direita. |
Enfim, à nossa querida dona Lazinha, meus eternos agradecimentos, uma vez que nunca mais tomamos remédios para este achaque de meninos descuidados, e esse mal foi curado pura e simplesmente pela intervenção mágica e espiritual desta saudosa benzedeira.
A benção, Dona Lazinha!