domingo, 2 de fevereiro de 2014

PIADINHAS INFANTIS OUVIDAS NA USINA


A fábrica de linguiças ― O charutão ― O menino cabeçudo ― A bola de meleca ― O papagaio desbocado ― O cachorrinho Nabunda ― O burro e a velha ― A melha ― Receitas para matar baratas ― Um menininho chamado Claro ― O casal moderno ― O homem elástico ou pega, Janjão! ― Duelo entre bem-dotados
“Oh, anos felizes da infância. Quem
não queria ser menino de novo?”
(Lord Byron, poeta)

"Puberdade é quando você tem de rir de
piadas picantes que você não entende.”
(Reader’s Digest, abril 1968) 


(...) os valores aprendidos na infância e no meio
rural são as melhores armas para sobreviver e
se dar bem nas metrópoles decadentes"
(Mário Sérgio Conti, sobre o filme "Dois
Filhos de Francisco", OESP, Aliás, J15, 1-1-2006)
 


Wenilton Daltro, Osvaldo Tesche, Valmir Caetano, Zulega, Isnaldo Coutinho Pereira, não identificado, Felinho e 
Toninho Prata. Foto feita por meu pai Walter, quando ganhei uma máquina Olympus Trip-35, em 19 de janeiro de 1975.
Muitas foram as piadas infantis que ouvimos na Usina naquela virada das décadas de 1960 e 70. Muitas delas eram pura ingenuidade, coisa de criança mesmo, mas outras, geralmente contadas pelos meninos mais velhos, eram deveras picantes, e nos arrancavam gostosas gargalhadas. 

Geralmente, essas piadas maliciosas eram contadas por meninos que, na verdade, ainda mal haviam atingido a pré-adolescência, e quando o faziam, era sempre em segredo, e, obviamente, longe dos pais, pois se eram pegos nisto era surra na certa.


Havia também as que exigiam uma certa dose de raciocínio, e só depois de muitos anos, já meninos matreiros e “mais escolados”, é que íamos finalmente entender seu verdadeiro sentido. 

Recordo-me de algumas, e para que elas não se percam não sendo registradas por alguém, vou transcrevê-las aqui. Das que me recordo mas já não sei mais o enredo, tinha uma bem ingênua, que falava do "jipinho" que entrava na "igrejinha", nomes usados pelas crianças para se referir aos seus órgãos sexuais de meninos e meninas, respectivamente...

Então, sobre as piadas que rememorei abaixo, como disse o folclorista Gustavo Barroso, na distante década de 1920, "Se nelas achardes, leitor, algum chiste, dirigí vosso aplausos ao povo. Sou simples veículo de sua voz divina."

Às piadas, então!


A FÁBRICA DE LINGUIÇAS

Os irmãos Valmir e Ivo Caetano, 
dois notáveis piadistas da Usina.

Era uma piada também com conotações sexuais, e não havia quem não gargalhasse ao ouvi-la, piada que, por sinal, ainda causa o mesmo impacto na meninada:


Pai leva o filho para conhecer uma fábrica de linguiças. Ambos vão ver o maquinário principal, e nele há uma entrada por onde os burros são introduzidos. Uma fila de burros vai entrando e mais adiante cada um vai sendo processado pelo maquinário. Depois, pai e filho dão a volta e vão conhecer o final da máquina, onde por um orifício já saem prontas as linguiças.
O menino, querendo bancar o esperto, pergunta ao pai:
- Pai, e se invertermos o sentido da máquina e enfiarmos uma linguiça ali na saída, não vai sair um burro lá na frente?
E o pai, não perdendo a chance de tirar um sarro do filhos, emenda:
- Pois foi isto mesmo que eu fiz com tua mãe quando te coloquei no mundo!...
   
 
O CHARUTÃO
 
Esta piada, bem infantil e ingênua, era contada entre os meninos mais novos, na casa dos 6 ou 7 anos:

Dois meninos viajando de trem. Um deles na janela está observando a paisagem cheio de curiosidade. Mais adiante, a composição entra por um trecho entre barrancos, onde, na borda de um deles, há um sujeito soltando um barro. O menino olha para cima, vê aquilo e um grita para o amigo: 
- Corre! Vem cá, vem ver, olha lá em cima: veja que cara feia tem aquele sujeito!
- Isso não é nada: você viu o charutão que ele tinha na boca?!



O MENINO CABEÇUDO

Tem tudo de um caso de bullying, mas naqueles bons tempos ninguém falava nisso!

Um menininho chegou da escola chorando, e reclamou pra sua mãe:
— Mã-ãããe, mããããe, to-o-do mundo na es-es-cola me cha-a-ama de cabeçudo, todo mu-un-do!
— Não chora não, meu filho; não liga pra eles não! Esses tontos falam assim porque tem inveja de você! Então, deixa disso e faz um favorzinho pra mãe: vai lá no mercadinho e compra uma melancia, e se tiver abacate traz dois também.
E o menino perguntou:
— Cadê o carrinho de compras?
— Xi, meu filho, a rodinha dele quebrou!
— Mas, mãe, onde eu vou trazer a compra?!
— Oras, menino, coloca tudo no seu bonezinho!


A BOLA DE MELECA

Uma piadinha, antiga também, aliás, piada bem “infame”, era a da “bola de meleca”, uma historiazinha para lá de besta, mas que fazia rir à beça os mais novos.


Dois irmãos estavam sozinhos em casa, e um deles, o mais velho, disse que precisava dar uma saidinha. O irmão mais novo reclamou:
— Mas não vai demorar, né?
— Não. Fique frio, que eu já volto já.
— Mas o que eu vou ficar fazendo aqui sozinho?
O irmão mais velho, malicioso, ironizou:
— Oras, fica tirando meleca do nariz, como você sempre faz!...
Dito isto, partiu, enquanto o irmãozinho, entretido consigo mesmo, se pôs a cutucar o nariz...
Horas depois ele voltou, e, só para desbaratinar, resolveu perguntar para o inocente se havia demorado muito:
— E aí, maninho, demorei muito?
E o irmãozinho, enrolando uma enorme bola de meleca entre a palma das mãos, retrucou:
— Vê lá!...


O PAPAGAIO DESBOCADO

Esta é uma piada famosíssima, piada de papagaio ainda em voga, tendo muitas variantes, mas o motivo é sempre o mesmo. 

Um açougueiro, que tinha a memória ruim, tinha um papagaio que desandou para a malandragem e começou a comprometer as suas vendas. As vezes, chegava um freguês no açougue, e mal pedia carne o papagaio se intrometia e falava:
- Tem carne não, amigo - está tudo estragada!

Chegava outro freguês, e lá vinha o papagaio:
- Tem carne não, amigo - está tudo estragada!
 

O açougueiro ficou fulo da vida e disse ao papagaio:
- Se você falar isso novamente, eu vou jogar você dentro da privada! 

Mal ele disse isso, chegou um outro freguês e o papagaio repetiu o estribilho:
- Tem carne não, amigo - está tudo estragada!

Então o açougueiro jogou o papagaio na privada, fechou a tampa e voltou ao açougue. Ele vendeu carne à vontade, que até se esqueceu do desbocado do papagaio. Ao fechar o açougue, sentiu necessidade de usar o banheiro. Ele sentou-se na privada pensativo, tentando lembrar onde estava o papagaio, e ao olhar para o céu, disse:
- Ai, que céu mais estrelado!
 

E o danado do papagaio lá dentro emendou:
- Ai, que cu mais arreganhado!...
Julião, Valmir e Isnaldo, 19-1-1975


O CACHORRINHO NABUNDA

Ouvimos também uma que foi muito famosa naquela época, e ainda é, sendo hoje até mesmo encontrada na Internet, a piada do cachorrinho chamado Nabunda, piada que, na verdade, é uma pegadinha safada. Não sei se é uma piada famosa em todo o Brasil, mas é clássica em todos os grupos escolares do interior paulista.

Numa roda de meninos, um pergunta para o outro:
- Suponhamos que você tem um pequeno barco e um cachorro chamado Nabunda. Você precisa atravessar um rio urgente, mas o barco é muito fraco e é perigoso levar mais de um. Então, ao atravessar o rio com o barco, Nabunda vai ou Nabunda fica?...


Era aí, justamente nestes trocadilhos que estava a pegadinha, e se o menino que ouvia história não tinha muita malícia e respondesse qualquer uma das duas alternativas, fatalmente “se estrepava”, no que era alvo da maior gozação da meninada. Os mais espertos e sabidos respondiam: “– Nabunda nada!...” 


O BURRO E A VELHA

Outra piada muito famosa: 


Havia um burro manhoso que vivia roubando milho numa plantação, e toda vez que a velha, que era a dona do milharal, ia ali, surpreendia o animal no ato e botava ele para correr. E o burro, no susto, peidava alto empestando o ar e desembestava num carreirão morro abaixo. 
E a coisa se repetia todo dia. Daí que não suportando mais aquela porquice do animal, ela jurou vingança, e disse a si mesmo: 
- Se eu voltar aqui, pegar ele roubando e ele peidar fedido de novo, eu vou enfiar uma espiga no rabo dele! 
No outro dia, olhando de longe, a velha viu o burro na plantação. Ela se aproximou sem ser vista, pegou uma espiga num pé, debulhou-a, e, chegando em silêncio por detrás do burro, enfiou com força o sabugo no rabo dele. Desesperado, o burro deu um coice no ar, e ao desembestar soltou um peido enorme e o sabugo voou com tudo para trás.
No dia seguinte, um menino passou pelo bairro vendendo jornais, e gritava bem alto: 
- Extra, extra, extra! Mataram uma velha com uma sabugada na testa! Extra, extra, extra! Mataram uma velha com uma sabugada na testa! ...


A MELHA

Me recordo também de duas pequenas piadas contadas por meu irmão Wagner, que era o irmão que sempre aparecia com novidades em casa, sejam novas piadas, sejam novas palavras ou expressões. Desde aquela época, nunca mais ouvi alguém se referir à elas. Ei-las:

Um irmão pergunta ao outro:
- O que é isso em tua mão?
O outro responde:
- Uma melha!
E o irmão o corrige:
- Não fale melha que é felho!

Julião, Valmir Caetano e Wenilton 19-1-1975
A outra é um pouco semelhante:

Durante o jantar, um irmão faz um pedido
ao outro:
- Por favor, passa uma linguí prá mim.
O outro repreende:
- Não é linguí que fala, é linguiça!
E o engraçadinho se explica:
- É que eu estou com uma preguí...

Esta é de humor negro, e os mais novos não entendiam mesmo o seu significado. A cena ocorre durante a hora do almoço:

- Mãe!
- Que foi?
- Eu não gosto do meu irmãozinho!
 E a mãe, sem muitas cerimônias:
- Então come só as batatas!


RECEITA PARA MATAR BARATAS

Uma curiosa, que não era bem uma piada, historiazinha que, por sinal, os mais novos nem sempre captavam o absurdo contido nela:

Você pega 1 pires de sal, 1 copo de pinga, 1 palito de fósforo e 1 pedra. O material é colocado no chão e na sequência. Daí, a barata vem para comer o sal, pensando que é açúcar... Em seguida, ela ficará com sede e vai beber a pinga, pensando que é água... Ela ficará bêbada e sairá cambaleando. Depois, tropeçará no palito à sua frente, cairá, baterá a cabeça na pedra e morrerá de traumatismo craniano. Simples, não?!...


O BRANQUELO E O NEGÃO

Piada que, num insight, relembrei não sei como numa noite de Natal de 2016. Famosa na época, mas com motivo bem besta e infantil.

O Isnaldo, aos 12 anos e já aprontando; o Valmir 
Caetano e o cômico Julião Mathias, em 19-1-1975
Dois amigos chegam à noite em casa com a maior fome, querendo comer um lanche. Como era de costume, ambos se despem e ficam à vontade na casa. O branquelo vai até a geladeira:
- Ih, negão tem verdura! E agora?!
- Ah, cara, eu também não como nada se não tiver uma verdurinha para acompanhar!
 

O negão se lembra de algo.
- Branquelo, a vizinha tem uma hortinha aí no quintal dela. Vamos lá afanar uns pés?
- Beleza! Vou me vestir.
- Que vestir, que nada. Vamos lá pelados mesmo. Tá escuro e ninguém vai ver a gente.
 

Quando ambos estavam prestes a colocar as mãos nas verduras, do nada surge a ingênua filha adolescente da vizinha que ia ali urinar.
- Branquelo, psiu, não se mecha. Vamos fingir que somos estátuas.

A menina se aproxima, baixa a calcinha, se agacha e, no escurinho, vê os dois durinhos ali, e crê que são estátuas mesmo.
- Nossa, de onde vieram estas estátuas?!

Ela se levanta nua, o branquelo a vê e tem uma ereção. Ela veste a calcinha e sente atraída pelo membro do branquelo, vai até o rapaz e começa a manusear o dito cujo.
- Nossa, como é duro!
 

Em instantes, o moço goza nas mãos dela, e ela diz espantada.
- Nossa, saiu leite!
 

Daí que o negão, não querendo ficar atrás, louco de vontade diz para a menina:
- Agora, menina, bate aqui que sai café!...


 
UM MENINO CHAMADO CLARO

Piada muito popular, e que fazia a meninada rir a valer:

Um menino chamado Claro ia andando pelo corredor de sua casa à noite, e ao passar pela porta do do quarto de seus pais — ambos faziam sexo naquele momento —, e ele ouviu sua mãe gemendo alto. Ele pensou consigo: 
- Nossa, o que será que meu pai está fazendo com minha mãe, que ela está sofrendo assim?! 
Ele encostou a orelha na porta e tentou entender o que se passava lá dentro. Não demorou muito, o pai disse: 
- Vamos variar um pouco, mulher: chega de meter no escuro; vamos meter no claro agora.
No mesmo instante, o casal ouviu lá fora: 
- Não, pai, não vai meter em mim não, por favor, por favor!


O CASAL MODERNO

Outra que a meninada rachava o bico, apesar de mesmo com a liberação sexual surgida com a Contracultura o tema ser avançado para a época:

 Filho tomando banho com o pai, olha para o membro dele e diz assustado: 
- Nooossa pai, que pintão que o senhor teeem! 
E o pai responde: 
- Iiiih, meu filho, você não viu o da sua mãe ainda!...


O HOMEM ELÁSTICO ou PEGA JANJÃO!

O Paulinho Domingues e eu, 
em nossa Primeira Comunhão
Me recordo-me vagamente de uma velha piada, hoje desaparecida entre a criançada, piada esta que nos foi contada pelo Paulinho Domingues, que era uma disputa para ver quem era o mais bem-dotado. Num dado momento em que os apostadores estavam medindo seus membros, um deles chamou a atenção de todos ao retirar uma bucetinha de plástico de seu bolso. Em seguida, esfregou ela no seu pau só para atiçá-lo, e depois atirou-a para longe dizendo: - Pega, Janjão!...

 

DUELO ENTRE BEM-DOTADOS

Outra, em linha semelhante, a mais cômica e picante de todas, e que também arrancava gostosas gargalhadas da molecada:

Um sujeito metido à besta entra num velho armazém, abre a braguilha, põe para fora uma pica enorme, e batendo com ela três vezes no balcão diz ao vendeiro:
- Veja uma pinga para mim!
O vendeiro não deixou por menos: colocou também a sua enorme pica para fora, e apontando com ela para as garrafas na prateleira acima, foi logo perguntando:
- Você quer dessa, dessa ou dessa aqui?...
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* Este capítulo faz parte do  Volume 3- "A space in time ― janeiro a dezembro de 19.71". O livro está em processo de confecção sem prazo para lançamento.


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